A palavra
motivação parece ter um certo encantamento, principalmente
quando falamos de atividade física em geral ou no esporte, em particular. Ao
nos determos em alguns fenômenos que nos rodeiam, surgem inúmeras perguntas
que, a príncipio, parecem difíceis de responder ou são respondidas de acordo
com o senso comum, muitas vezes de forma equivocada. Vamos a algumas dessas
perguntas:
• Por que
existem pessoas que gostam de ir à academia exercitar-se durante horas a fio,
sem manter qualquer relacionamento com outras pessoas, e outras para quem o
exercício é secundário e o que vale mesmo é fazer uma atividade social?
• Por que
algumas pessoas não conseguem se fixar em uma atividade física por muito tempo,
preferindo variar o tipo de atividade?
• Por que
alguns escolhem atividades individuais e outros, coletivas?
• Por que
existem aqueles que gostam de atividades competitivas enquanto outros preferem
as sem caráter competitivo?
• O que
leva a um atleta a treinar longos períodos e, apesar de constantes derrotas, persistir
em direção a uma melhor performance, querer participar de torneios
importantes, abandonar a família e amigos, entregando-se a uma vida de
restrições e de privações?
De maneira
geral, poderíamos perguntar por que as pessoas fazem, deixam de fazer ou nunca
fazem atividade física ou, ainda, o que leva alguém a fazer ou não uma
atividade? Ou por fim: por qual motivo?
Pelo prisma
da Psicologia, nenhum comportamento existe sem uma causa motivadora que o
determine. Motivos são construções hipotéticas, aprendidas ao longo do
desenvolvimento humano e servem para explicar comportamentos. As explicações
para as ações baseiam-se na suposição de que a ação é determinada pelas
expectativas e pelas avaliações de seus resultados e pelas suas consequências.
Entre os motivos mais pesquisados está o motivo da realização, responsável pela
motivação em situações de rendimento e competição. Esse motivo é considerado de
maior relevância nas atividades físicas, no esporte em geral e nas aulas de
Educação Física.
O motivo de
realização refere-se ao esforço do indivíduo em concluir uma tarefa,
atingir excelência, superar obstáculos, atuar melhor que os outros e
orgulhar-se das habilidades possuídas. É a motivação que orienta as pessoas a
realizarem suas aspirações, persistir quando erram e sentir orgulho ao atingir
seus objetivos.
Os sujeitos
com forte motivação para a realização trabalham mais, aprendem mais depresa e
são mais competitivos do que aqueles que possuem baixo nível de motivação. No
plano da ação, são aqueles que assumem responsabilidades pessoais pelos seus
atos, que assumem riscos apenas moderados e que tentam atuar de maneira
criativa e inovadora.
Por outro
lado, sujeitos com baixa motivação, escolhem tarefas com dificuldade extrema e
apresentam alta taxa de ansiedade quando colocados em situações nas quais são
avaliados.
Estudos
realizados em motivação para a realização também sugerem que indivíduos com
altos níveis dessa motivação são independentes, mais persistentes em tarefas de
dificuldades moderada, realistas ao estabelecer expectativas, fixam
padrões de excelência cada vez mais altos por não se satisfazerem só com um
determinado êxito, têm compreensão clara de seus objetivos e estão conscientes
da relação entre as metas de realização presentes e objetivos futuros.
O primeiro
passo para a compreensão do comportamento para a realização é entender que
êxito e fracasso são estados psicológicos baseados na interpretação de eficácia
do sujeito empenhado para a realização.
Para se
desenvolver um nível de aspiração e uma percepção subjetiva de capacidade
adequados é importante que as pessoas possam estabelecer suas próprias metas
de rendimento nas atividades praticadas. Além de possibilitar a busca de
metas compatíveis com sua capacidade, isso também diminui a atribuição externa
no caso de não conseguir alcançá-las. Para isso, no entanto, é necessária a
adoção de uma norma individual de referência; o que significa evitar situações
que evidenciem a comparação entre as pessoas e valorizar os progressos
individuais.
A exposição
ao risco calculado favorece o convívio com a insegurança. No esporte,
especificamente, é importante aproximar o treinamento de situações reais de
competição, principalmente sob pressão de tempo e em inferioridade de
desempenho.